segunda-feira, 17 de abril de 2017

CUFA retorna a Pelotas após cinco anos


Com o olhar da própria periferia, o objetivo é empoderar o jovem através da educação e da cultura
Navegantes. Iniciativa será retomada no  local de origem  (Foto: Carlos Queiroz - DP)
Navegantes. Iniciativa será retomada no local de origem (Foto: Carlos Queiroz - DP)
Só o morador sabe o quão quente é o chão do gueto quando pisado por pés descalços. Da periferia para a periferia, está retornando, após cinco anos de inatividade, a Central Única das Favelas (Cufa) em Pelotas. O objetivo segue sendo empoderar o jovem utilizando sua própria linguagem.
A Cufa surgiu há 20 anos como uma organização em prol da união entre as favelas do Rio de Janeiro. Buscava-se, à época, a criação de espaços para que a população periférica - especialmente os negros - pudesse expressar atitudes, questionamentos e cultura, tendo como principal braço o hip hop, linguagem própria dos guetos.
A proposta cresceu, ganhou todo o Brasil e chegou até Pelotas em 2006 através do Fórum das Periferias, quando representantes da Cufa em Porto Alegre decidiram por trazê-la para a cidade mais negra do Estado. A partir daí, principalmente no Navegantes 1 e 2, iniciaram-se projetos de capoeira, rap, documentário e dança, sempre com o objetivo principal de, para além de estimular a ocupação, promover geração de trabalho e renda e crescimento humano.
Em Pelotas, a organização durou até 2012 e agora articula-se para voltar a fazer diferença na periferia. No último dia 2, os coordenadores locais receberam a informação de que, em Porto Alegre, já era comentada a intenção de retornar os trabalhos por aqui “na mesma linha, de fazer do jovem um protagonista da própria história”, comenta Edson Mesquita, coordenador geral.
Do próprio jeito
A Cufa destacou-se sempre, e é objetivo que assim permaneça, por ser uma ação criada pela população periférica para ela mesma - o slogan é autoexplicativo: “fazendo do nosso jeito”. Pudera: por maior e mais sensível que seja um trabalho acadêmico, é apenas o olhar local, pé no chão, capaz de apresentar a realidade de fato. “Temos o olhar real. Falamos a linguagem de quem precisa ouvir, por mais interessantes que sejam as ferramentas técnicas”, comenta Sandro Mesquita, coordenador de cultura em Pelotas.
Nessa nova fase, a Cufa Pelotas pretende realizar parcerias com universidades, poder público, iniciativa e ONGs para que vire realidade a intenção de realizar projetos longos, com duração de seis meses, para que o jovem tenha tempo de integrar-se e fazer daquela atividade uma rotina. Três ações já estão prontas para saírem do papel: o retorno das aulas de futebol e capoeira e a implementação da Maria Maria, iniciativa que busca orientar as moradoras das periferias acerca da Lei Maria da Penha. Pensa-se também em utilizar a recentemente inaugurada pista de skate do Navegantes para oficinas.